O público, o privado....
Há sempre histórias, porque cada dia é um dia, cada pessoa uma pessoa, e a sorte passeia-se, não tem poiso certo, nem definitivo.
Para mim, o público está bom.
Pensava assim. Mas faço diferente. Para mim, o público está bom e o privado ainda melhor. Estamos sempre a mudar de opinião. E não é bom? Pode ser.
Anita rumou, esta manhã, à sua terceira consulta de Saúde Materna, no centro de saúde:
Meia hora depois da marcação inicial, Anita entra na sala da enfermeira, o momento que sempre antecede a consulta, para o procedimento habitual. Bom, por acaso hoje, estranhou que antes do "bom-dia", tivesse saído " o seu livrinho sff" e só depois um comprometido cumprimento. "Que raio, por vezes acontece-nos sermos mal educadas, e não é por mal!", pensou.
"Pode ir já tirando o casaco para medir a tensão" e "agora vamos ao xixi". Sim, senhora, tudo a correr como o previsto e rápido. Anita pegou no copinho de plástico e dirigiu-se ao outro lado do centro, passando pela sala de espera e hall de entrada com o dito cujo... ainda vazio. O pior era fazer o trajecto inverso com ele já amarelinho! E que transparente é o copinho, não é?!
Mas, desta vez, Anita nem ficou tão embaraçada porque ia a pensar na falta do tampo de plástico das sanitas velhinhas, na ausência de sabão para as mãos ou qualquer outro desinfectante ao pé do lavatório, a contrastar com os conselhos de higiene que o Ministério da Saúde, gentilmente, mandou afixar em todos os estabelecimentos de saúde que se prezem!
Sendo aquela a terceira vez que se deparava com o "desaparecimento" do líquido mágico, concluiu que, da próxima vez, se não trouxesse umas toalhitas desinfectantes de casa, a culpa seria sua. "O azar? O azar, é para os incautos!". Nunca mais se esqueceu desta frase que um dia lhe dirigiram a próposito de outro assunto.
Tirinha no xixi, tudo ok. "Já está é a acusar é fome!". Estava pois, o pequeno almoço já levava duas horas, o lanche da manhã impunha-se, mas tinha que esperar. Balança? Mais meio quilo, sem direito a registo no boletim de grávida, sequer. "Só contarão os quilos inteiros, ou foi mesmo por esquecimento?". Bem, "agora é aguardar que a médica chame".
Na salinha da médica, o sorriso, a atenção e a pressa de sempre, ainda que disfarçada. Hoje, para além dos habituais registos das últimas novidades - resultados de análises entretanto feitas, ecografia, rastreio bioquímico, etc - um "miminho". "Vamos tentar ouvir o coração? Fazemos assim: tentamos duas vezes, se não der, paciência, é porque ainda é cedo, está bem?". Está bem. Deu logo! Pum-pum, pum-pum, pum-pum... e "pronto, está bom", disse a médica, quase em jeito de "não a mimes demais, que ela habitua-se" :)
Credenciais para os próximos exames, declaração para a Segurança Social e adeuzinho, até daqui a um mês.
Anita regressou ao carro, novamente em modo "instrospecção". "Então e se eu não tivesse internet para tirar dúvidas? Quais vão ser os próximos sintomas? O que é normal e não é? Será que a minha alimentação tem sido a ideal? O que posso melhorar? Não querem saber se tenho feito exercício físico (não tenho, preciso que me puxem as orelhas com urgência!!)? E quando é suposto ter barriga, daquelas redondinhas? E por que é que de manhã sou elegante e só à noite (só à noite!) fico grávida? Então e...?".
Anita aviou mais duas caixas de ferro e foi comprar as ervilhas doces da Iglo, para fazer com ovos e chouriço.
Se estou bem no público? Estou.
Não tenho uma razão de queixa em concreto que possa apontar (para além da falta de sabão na casa-de-banho e da própria localização da mesma). A médica é atenciosa, faz o que é suposto fazer e ainda sorri e deseja felicidades.
Mas se estou melhor ainda por também ter a médica obstetra do privado?
Sem dúvida alguma.