Este post resulta do cansaço. E da incredulidade com que eu própria interpreto os meus dias, cada vez com menos horas para fazer coisas minhas e só minhas.
Mas, afinal, caramba, o que andas tu a fazer durante o dia, que nunca consegues ter tempo para as tuas coisas, nem para manter a casa num estado razoável, nem para.. nem para.. nem para ter nada como ser?
Muito bem. Vamos ao relatório.
Quem tem bebés rege-se por blocos de tempo. No meu caso, de três em três horas há leitinho, ou seja, entre as 10 e as 22 horas, fazem-se 5 refeições, de cerca de meia hora cada. A das 6h30 não é para aqui chamada.
O meu dia começa às 9, um início que pretendo antecipar ainda mais para conseguir ter mais tempo livre antes do dia da Mel começar.
9 horas
O despertador toca e já passam 15 minutos quando consigo sair da cama. Olho para o lado, a Mel dorme descansada. A corrida começa.
Pequeno-almoço, sentada, com leite a deitar fumo, como tanto gosto e preciso para começar bem o dia. A torrada não tem manteiga, porque a nutricionista não deixa. Nem tudo é perfeito, mas está aceitável.
Arrumo a loiça do pequeno-almoço, limpo a mesa, seco a loiça que escorre desde o dia anterior. Trato minimamente de mim, dentes, pijama fora... E começo a preparar o dia da Mel: arrumo as mantas da sala (jogadas para qualquer lado com mãos sonolentas na noite anterior), preparo o coelhinho peluche onde faz as sestas, acordo os brinquedos largados por ali, ponho a fralda de pano e o babete a jeito, os comandos da TV para poder ver o MasterChef Australia da noite anterior. Na cozinha, organizo biberões e esterilizador. 150 ml de água fervida, cinco medidas de leite em pó, mexe bem mexido, põe a tetina, colher do medicamento para as cólicas a jeito.
Depois, o grande momento. Abrir o estore, colocar a música do mobile a tocar, afastar os cortinados e bom-diiaaaaa meu amoooooooreeeeee! Ela faz-me aquele sorriso rasgado e desdentado, encolhe a cabecinha nos ombros e voltar a sorrir, agora já com um guinchinho a acompanhar. Eu babo muito, sorrio, sinto os olhos a brilharem e encho-me de cores cá por dentro.. Dormiu beeem meu amooooreeee?
Mudamos a fralda e comemos. Ela o leitinho, eu, em pensamento, as comidas dos aprendizes de chefs australianos.
Volta a dormir.
Lavo o biberão e ponho o esterilizador a funcionar. Apanho roupa, dobro e distribuo por gavetas e armários. Estendo uma máquina de seis quilos de pequeninas roupas. Faço chás. Lavo a loiça do jantar do dia anterior. Separo lixo para a reciclagem. Penso na sopa que quero fazer para o almoço e ponho mãos à obra. O puré está ao lume.
13 horas
Preparar novo biberão. Acabar de ver o Castle que comecei ontem, enquanto ela tenta mandar no biberão com os seus movimentos desgovernados, mas cada vez mais firmes e determinados. Oh my God, a minha menina está a crescer! Agora tem as mãos lambuzadas de leite, o queixo a escorrer... Mas está contente.
Adormeceu de novo. Hoje é um dia de sorte, penso eu, vou poder despachar algumas coisinhas que andam pendentes há dias e semanas... As cólicas ainda não deram as caras. Vamos disfrutar!
Passo o puré, hortaliças lá para dentro, ovo a cozer, isto hoje está encaminhado. Ponho a mesa, sem esquecer as sementes de linhaça, para misturar na dita cuja e ficar de uma vez enfartada e cheia de fibra!
Faço as camas, organizo o fraldário, reponho fraldas e toalhitas.
Almoço, despacho-me a arrumar as loiças. Limpo o fogão que ficou mal-tratado com a sopa que saltou do tacho (lume muito alto, falta de atenção, dá nisto!).
Descongelo o peixe para o jantar. Faço mais chá e espreito-a. Está de olhinho aberto, a pedir mãe. E a mãe aqui liga as luzes da árvore de Natal, prepara a espreguiçadeira e... resulta. Ela fica encantada da vida a observar o mundo que preparei para ela. E eu, encantada com ela, sento-me ao computador para tratar de umas prendinhas de Natal :) Mas, antes, decido, escrever no blogue. Oh poças... são 16 horas, tá na hora do biberão!
16 horas
Ela come e eu observo-a. Só. Adormece novamente. Vou para o computadoooorrr. Não quero saber de mais nada. O que está por limpar, vai continuar. Não quero saaaaberrr. Escrevo no blogue. Mas pouco: ela acorda. Vamos brincar um bocadinho? Vamos. Depois deixo-a um bocadinho a brincar sozinha.
Fervo água para os biberons. Cozo os peixes para o arroz do jantar.
Encho uma máquina com roupa, desta vez de adulto, e programo-a para a noite. Faço café na máquina.
Lancho já? Vou arriscar e esperar um pouco. Apanho a roupa que já está seca, dobro e engordo a pirâmide ranhosa que olha para mim todos os dias e grita: "Estás à espera do quê? Estou cada vez maior!!"
É hora de lanchar, a Mel está a ameaçar pedir toda a atenção. Arrumo a cozinha. Arranjo o peixe, ponho os ingredientes para o jantar a jeito. Sempre tudo a jeito, não vá ter que fazer tudo com ela ao colo...
19horas
Ups! Biberão. Outra vez?
O pai chega, peço que seja rápido. Os beijos são rápidos, tirar a gravata e o fato é rápido, o banho tem que ser rápido... A menina já tem colo, posso terminar o jantar, mas rápido. A cabeça ao jantar tem que ser polivalente: tem que dar para pôr a conversa em dia, ouvir uma ou outra notícia, planear o dia seguinte, fazer "olá e cutchi cutchi" à Mel que está ao lado na espreguiçadeira e pedir carinho e pensar na preparação do banho que acontece não tarda mesmo nada.
Olha, já está na hora do banho!Olha, já está na hora do próximo biberão.
22 horas
A Mel bebe o leitinho, aninhada no colo do pai, por entre sorrisos e uns olhinhos já pesados. Eu delicio-me com o cenário. Ritual do deitar terminado - que maravilha pô-la na cama, arranjar-lhe as mantas, beijá-la e cheirá-la, amo-te meu docinho e deixar o patinho a cantar e a bater asinha na cabeceira! -, é tempo de arrumar a cozinha, encher a marmita, organizar os biberões...
Por volta das 23 horas, é hora de sofá. Estamos estafados. A Anatomia de Grey fica para amanhã. Ou estávamos a ver a Segurança Nacional...?
Mais variante, menos variante, é isto.
Se fiz muita coisa? Fiz. Mas se foi o suficiente? Não.
Se é preciso mudar aqui alguma coisa? É, sim senhora.
Deixar de comer ajudava. E de sujar roupa :) Ok, uma empregada era bem-vinda. Ok, voltei à terra.
Ninguém disse que era fácil. Eu sei.