Às vezes os dias acordam cinzentos. Adormecem e acordam da mesma maneira.
Passam-se semanas e as cores pouco ou nada mudam.
Tantas vezes estamos com o saco tão cheio que nem sabemos quando começou o dito cujo a pesar. Nem exactamente porquê. Nem como é que o despejamos. Começamos por onde?
E a vontade de emigrar um pouco. Umas horinhas por dia que sejam!
Nem sempre sabemos entender o que vai cá dentro. Se calhar tem mesmo que ser assim.
Quando gargalhei, no meio das nossas conversas tolas, percebi que, então era isso, sentia falta de gargalhar.
Quando ouvi tocar o despertador da "papinha", senti que, então era isso, fazia-me falta perder a noção do tempo.
Quando respirei fundo, cansada da conversa, percebi que, então também era isso, fazia-me falta conversar e estafar os "outros" com a minha conversa...
Quando estávamos todos na sala a sorrir com as bolhinhas que a minha bebé faz, como quem alcançou algo nunca visto, percebi que, então também era isso, fazia-me falta partilhar a minha filha com vocês e perceber como também gostam dela.
Quando pus os olhos no meu mar, nas minhas ondas, nas minhas dunas, senti que sim, era muito isso, sentia falta da minha costa, do meu ar, deste cheiro...
Quando pusemos o biberon da Mel a arrefecer com a brisa do mar no capot do carro, percebi que sim, é mesmo isto, as rotinas tiveram que mudar, nunca mais voltam a ser o que eram, se calhar há um certo caos que tão cedo não se pisga lá de casa, mas há sempre um escape. Tem que haver.
Então era isso.
Andava a precisar de praia.
E de vos absorver.
E de não fazer comida.
E de experimentar a Yammi da minha mãe.
E de me rir contigo, sem ser à pressa.
E de estender as tuas roupinhas encardidas de fruta, no estendal virado para o meu pinhal.