Quando chego à sala polivalente e a vejo tranquila, enlaçada em braços meigos, à espera de quem lhe abre um sorriso ansioso e lhe quebra a moleza do fim de dia... sinto uma alegria maior que eu.
Já passaram algumas horas desde que demos aquele beijinho matinal - que, às vezes, tem um chorinho na despedida - e estamos com saudades uma da outra. Muitas.
Ela já sabe que a partir dali, somos só nós novamente, o nosso passeio até casa, com paragens debaixo das árvores para ver as folhas, para sentir o vento na cara, fazer carrossel, ver um ou outro cãozinho que por ali passe. Depois o banho, os peixinhos a chapinhar na banheira, brincadeiras e risos, conversas esquisitas que, afinal, significam tanto para nós as duas, o teu jantar com a fruta escondida para não saltarmos a sopa e o segundo prato, tentar cozinhar contigo agarrada à minha perna, as molas todas espalhadas no chão, o pai que chega, a algazarra doce do costume, a nossa vez de comer ao ritmo das tuas refilices de sono, o leitinho quentinho - páááá-pa! - , mimos, tantos mimos, vejo-te adormecer e penso: És o melhor de tudo. Todos os dias penso isto.
No outro dia, saímos novamente rumo à escola. A árvore de Natal cada vez está mais bonita com os trabalhos dos outros meninos. Casaquinho no cabide, espreitamos pelo vidro da porta e, lá de dentro, quem nos vê abre sorrisos e bons-dias apetitosos. Há abraços prontos: dos meninos e meninas de bibes e das meninas crescidas - educadora e auxiliares - que já sabem que queres ver a rua, que pedem beijinhos e turras e que compreendem, pois claro, que naquele momento ainda não há nada para ninguém.
As paredes da sala têm renas feitas com mãos pequeninas que se encheram de tinta. Weeeee! Tinta, que bom que deve ter sido! E a festa de Natal está à porta, vai haver espectáculo: o que conseguem treinar criaturinhas tão pequeninas e verdes nestas lides do show? Desconfio que é canção porque a Mel anda a cantarolar melodias desconhecidas do portefólio caseiro. Es-tou-an-sio-sa!
Uma festa de Natal e a minha bebé lá metida. Sim, isto deixa-me feliz. Vai ter que ir de azul. Pode ser até que arrisque uma fita nesse dia, porque quero que sejas a mais azul e linda de todas as bonecas lindas e azuis que vão brilhar num palco que, flutuará, com toda a certeza, com a baba de todos os pais.
E e a estrela? Qual estrela? "É para os pais levarem para casa e trazerem decoradas!". ´Ca nerveeees´:) Correria aos chineses? Papelarias? À dispensa? Ao saco dos enfeites de Natal? Ao saco das coisas que não interessam nada mas que estão guardadas porque nunca se sabe...? Ó meu Deus, a estrela da miúda. Te-mos-que-fa-zer-uma-estrela-linda!
É o nosso primeiro trabalho de casa enquanto pais!
E por isso este post.
Por isso e porque queria fazer a apologia da creche.
A apologia de um espaço onde há meninos e meninas que se abraçam, beijam e beliscam, que partilham mãos cheias de ranhoca - as mesmas que sentem o que é o barro e as massinhas - , que cantam e dançam, que ouvem música clássica e decoram a canção da chuva, que aprendem a comer com colher, a dormir em conjunto, o valor do silêncio, do respeito e da partilha.
Se há coisas boas em crescer num ambiente exclusivamente caseiro? Pois, com certeza - assim de repente ocorre-me dizer que a Mel está com tosse desde Outubro! Mas sou apologista da creche porquanto ela proporciona pequeninas - grandes,enormes!? - coisas que dificilmente se replicam no ambiente-redoma do ninho.
Depois de muita procura nas prateleiras "chinesas", agarrei-me a umas embalagens miniatura de queques e um saco de coisas verdes a imitar musgo, cheio de pó.
Em casa, tirei da gaveta guardanapos, cola, tesoura.
E fiz uma oração ao Senhor das Inspirações:
Ajudai esta pobre mãe no seu primeiro TPC.
Ajudai-me a criar uma estrela cintilante que orgulhe a minha menina.
Ai pá, e ele ajudou-me, caramba! :)
A Mel não ligou grande coisa.
Mas e eu? Estou que nem posso, orgulhosa disto pá!
Xanaaaam!
Exatamente...ela não ligou grande coisa...
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