Esta coisa da terra, de ir à terra, do regresso às origens... faz sentido, quando a terra vale a pena, quando as pessoas valem a pena, quando as rotinas ainda lá estão e nos sabem bem e quando a novidade ainda consegue aparecer. Nem sempre se sente tudo de uma só vez num "regresso", mas, alguma destas coisas tem que imperar.
Não é mito, ali a meio caminho, na zona de Grândola, já o cheiro é diferente. O ar é mais ar, as flores são mais floridas, a terra tem mais cor de terra, as nuvens são mais nuvens, mesmo quando estão cinzentonas, como foi o caso desta Páscoa.
Depois, chego a Santo André, e os canteiros têm relva, têm floritas e árvores e arbustos, e cascas de pinheiro castanhas, que intercalam com pedras brancas a decorar, e bancos novos e, agora, até ciclovias.
Subo a rua e vejo muros pretos que eram brancos, telhas a precisar de limpeza, portões que se abrem para a família entrar, carros estacionados nos passeios, vejo-me ali há tantos anos, vejo-me a viver ali, vejo-me a regressar.
Também a minha casa (é sempre a minha casa, a-ca-sa-dos-meus-pais parece que fica incompleto!) tem o cheiro de família e das meninas que cresceram ali, e dos amigos e familiares que partilharam brincadeiras, a adolescência, e que um dia também foram parar a outras bandas. Ali, estou em casa, com os pinheiros que me dão alergia, pinhas para o forno a lenha que já não existe, caruma para fazer trampolins improvisados de onde saiam corajosos flique-flaques!
Tenho praia, tenho campo. Passeamos, interrompidos por um carro... e outro, tempos depois. Já deu para correr, ver as vacas e os bois, os cavalos, os montes verdejantes, apanhar flores a pedido da criança, guardar pinhas e outras coisitas no bolso, para deitar fora quando a dita não estiver para ali sintonizada.
Quando chegamos ao mar, é tempo de ficar calada. O mar também é meu. Aquele mar também é meu, que raio, algum direito se adquire quando se viveu tanto naquela paisagem! Aquele mar também é meu, assim como aquela areia grossa, o passadiço de madeira, as azedas e as lagoas...
Em casa, à volta da mesa, cotovelo com cotovelo (a família ficou grande!), custa a acreditar que alguma vez saímos dali. Estamos sempre a comer? Se calhar estamos. Brincamos com a variedade de coisas que por ali aparecem. Mimos dos pais que fazem de cada visita um momento de saudade. Fiambre, paio, queijo de cabra, queijo fresco, o amanteigado de Seia, requeijão, doce, manteiga de vaca, manteiga de soja, manteiga de cabra, presunto, pão assim e assado, folares daqui e dacolá, quadrados de limão, uma entrada nova para experimentarmos, o cabrito, claro, o ensopado, e a língua estufadas que as meninas andam sempre a pedir e depois a ver se ainda sobra para levarem para casa, as amêndoas de chocolate (já sabes que para mim é mal empregue terem amêndoas verdadeiras, que eu não as como!), os ovos gigantes para o menino, os outros que desapareceram misteriosamente, o geladinho pequenino que o avô (agora já não é só o meu pai!) arranjou para o menino, os gritinhos do sobrinho, que canta, que ri, que faz birrinha, que faz carinhas, que dá beijinho na barriga e põe o ouvido à escuta, que não quer dormir, mas que cai podre de cansado na cama...
De manhã, abro a portada para um novo dia, ali. Os pássaros cantam, e acho que ao mesmo tempo. Os pinheiros dançam com o vento e lançam aquele cheiro de casca molhada. Sinto o pólen nos meus olhos.
O pirralho já canta na cozinha. Tenho que ir!
É mesmo assim.
ResponderEliminarAcontece tudo isso e no regresso aparece a nostalgia e a vontade de voltar para trás.
:) Repara que os ténis do B., foram calçados por ti e parece na foto que são meus!!! :)
ResponderEliminar... Não sobrou língua!