terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Colinho

Amanhã? Há festa. E cá em casa.
As tentativas de arrumar e limpar o ninho estão, portanto, reforçadas. O fim-de-semana ajudou a despachar algumas das infinitas tarefas acumuladas, mas, caramba... Tanta coisa para fazer. E amanhã? Há festa.
O fim do dia pedia mais agitação ainda do que o habitual. É lavar os copos que só saem do armário em dias de festas, é contar as loiças a ver se não falta nada essencial, combinar as paparocas, tirar tudo o que não é imprescindível na bancada da cozinha - para ter espaço para os petiscos que uns e outros vão trazer - acertar a lista das compras, separar a roupa da Inês, arrumar o quarto onde dormem as visitas, fazer....

Na sala, o leitinho da noite está choroso. Monstros na barriga da minha bebé, penso (o pensamento já se habituou a estas construções infantis). Estúpidas cólicas. O leitinho acaba por ir para baixo, já com uns olhinhos cansados, a pedir o merecido soninho. Mas hoje? O leitinho não foi assim tão salvador. O colinho não chegou. Os beijinhos não atenuaram. Os monstros não saíram da barriga da minha bebé. E ela chorou, chorou, chorou. Lágrimas a escorregar pelas bochechinhas abaixo, olhinhos de dor vermelhos. E ela roxa de tanta força. E nós? Sem chão.  
E ela? A espernear, de mãozinhas apertadas, de choro aflito, sem salvação com colo ou beijinhos.
Quero médicos aqui! Quero a saúde 24 ao telefone! Quero a pediatra a enxotá-los de vez!
Quero um colo grande para os três, até adormecermos e esquecermos estes tipos. Quero... 
Quero que ela durma e me sorria pela manhã. E quero que dar-lhe sopas e papinhas, quero mudar de leite... quero qualquer coisa que os afaste, pronto!

É dia 31, e a festa é hoje à noite. Mas já não quero saber dos copos. Nem da bancada. Nem da roupa. Nem dos petiscos.

Só quero que, mais logo, quando te for buscar para o leitinho, faças aquele sorriso grande. O meu colo.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Agora que cresceste

Agora que tens quase quatro meses...

Que já olhas para nós e nos fazes perceber que já sabes que somos pai e mãe,
Que já  és dona do teus sorrisos e gargalhadas,
Que já fazes beicinho e deitas lágrimas bochechinhas abaixo,
Que já agarras nalguns brinquedos com essas mãozinhas doces,
Que já olhas para a televisão e franzes o olho ou esboças um sorriso,
Que já fazes bolhinhas de cuspo sem parar,
Que já pões a língua de fora a imitar quem te tenta ensinar macacadas,
Que já observas tudo de alto a baixo, demoradamente e sem pudor,
Que já reclamas carinho e atenção,
Que já palras, como que a querer fazer palavras sair desses lábios bem desenhados,
Que já queres mandar no biberão com os movimentos mais ou menos certeiros desses minúsculos dedos,
Que já bebes 180 ml de leite num biberon de "crescida",
Que já queres provar o mundo todo com a tua língua,
Que já não cabes no berço, nem num simples bocadinho de braço e que não tens muita margem na banheira...

Agora... que és e fazes isto tudo, quero dizer-te, ou melhor, deixar aqui escrito  que...
Agora, que tens quase quatro meses, é uma felicidade ver-te crescer. E ser a tua mãe.
O melhor do meu ano. E, com toda a certeza, de todos os que virão a seguir.





sábado, 21 de dezembro de 2013

O dia encolheu

Este  post resulta do cansaço. E da incredulidade com que eu própria interpreto os meus dias, cada vez com menos horas para fazer coisas minhas e só minhas.
Mas, afinal, caramba, o que andas tu a fazer durante o dia, que nunca consegues ter tempo para as tuas coisas, nem  para manter a casa num estado razoável, nem para.. nem para.. nem para ter nada como ser?

Muito bem. Vamos ao relatório.

Quem tem bebés rege-se por blocos de tempo. No meu caso, de três em três horas há leitinho, ou seja, entre as 10 e as 22 horas, fazem-se 5 refeições, de cerca de meia hora cada. A das 6h30 não é para aqui chamada.

O meu dia começa às 9, um início que pretendo antecipar ainda mais para conseguir ter mais tempo livre antes do dia da Mel começar.

9 horas
O despertador toca e já passam 15 minutos quando consigo sair da cama. Olho para o lado, a Mel dorme descansada. A corrida começa.
Pequeno-almoço, sentada, com leite a deitar fumo, como tanto gosto e preciso para começar bem o dia. A torrada não tem manteiga, porque a nutricionista não deixa. Nem tudo é perfeito, mas está aceitável.
Arrumo a loiça do pequeno-almoço, limpo a mesa, seco a loiça que escorre desde o dia anterior.  Trato minimamente de mim, dentes, pijama fora... E começo a preparar o dia da Mel: arrumo as mantas da sala (jogadas para qualquer lado com mãos sonolentas na noite anterior), preparo o coelhinho peluche onde faz as sestas, acordo os brinquedos largados por ali, ponho a fralda de pano  e o babete a jeito, os comandos da TV para poder ver o MasterChef Australia da noite anterior. Na cozinha, organizo biberões e esterilizador. 150 ml de água fervida, cinco medidas de leite em pó, mexe bem mexido, põe a tetina, colher do medicamento para as cólicas a jeito.
Depois, o grande momento. Abrir o estore, colocar a música do mobile a tocar, afastar os cortinados e bom-diiaaaaa meu amoooooooreeeeee! Ela faz-me aquele sorriso rasgado e desdentado, encolhe a cabecinha nos ombros e voltar a sorrir, agora já com um guinchinho a acompanhar. Eu babo muito, sorrio,  sinto os olhos a brilharem e encho-me de cores cá por dentro.. Dormiu beeem meu amooooreeee?
Mudamos a fralda e comemos. Ela o leitinho, eu, em pensamento, as comidas dos aprendizes de chefs australianos.
Volta a dormir.

Lavo o biberão e ponho o esterilizador a funcionar. Apanho roupa, dobro e distribuo por gavetas e armários. Estendo uma máquina de seis quilos de pequeninas roupas. Faço chás. Lavo a loiça do jantar do dia anterior. Separo lixo para a reciclagem. Penso na sopa que quero fazer para o almoço e ponho mãos à obra. O puré está ao lume.

13 horas
Preparar novo biberão. Acabar de ver o Castle que comecei ontem, enquanto ela tenta mandar no biberão com os seus movimentos desgovernados, mas cada vez mais firmes e determinados. Oh my God, a minha menina está a crescer! Agora tem as mãos lambuzadas de leite, o queixo a escorrer... Mas está contente.
Adormeceu de novo. Hoje é um dia de sorte, penso eu, vou poder despachar algumas coisinhas que andam pendentes há dias e semanas... As cólicas ainda não deram as caras. Vamos disfrutar!
Passo o puré, hortaliças lá para dentro, ovo a cozer, isto hoje está encaminhado. Ponho a mesa, sem esquecer as sementes de linhaça, para misturar na dita cuja e ficar de uma vez enfartada e cheia de fibra!
Faço as camas, organizo o fraldário, reponho fraldas e toalhitas.
Almoço, despacho-me a arrumar as loiças. Limpo o fogão que ficou mal-tratado com a sopa que saltou do tacho (lume muito alto, falta de atenção, dá nisto!).
Descongelo o peixe para o jantar. Faço mais chá e espreito-a. Está de olhinho aberto, a pedir mãe. E a mãe aqui liga as luzes da árvore de Natal, prepara a espreguiçadeira e... resulta. Ela fica encantada da vida a observar o mundo que preparei para ela. E eu, encantada com ela, sento-me ao computador para tratar de umas prendinhas de Natal :) Mas, antes, decido, escrever no blogue. Oh poças... são 16 horas, tá na hora do biberão!

16 horas
Ela come e eu observo-a. Só. Adormece novamente. Vou para o computadoooorrr. Não quero saber de mais nada. O que está por limpar, vai continuar. Não quero saaaaberrr. Escrevo no blogue. Mas pouco: ela acorda. Vamos brincar um bocadinho? Vamos. Depois deixo-a um bocadinho a brincar sozinha.
Fervo água para os biberons. Cozo os peixes para o arroz do jantar.
Encho uma máquina com roupa, desta vez de adulto, e programo-a para a noite. Faço café na máquina.
Lancho já? Vou arriscar e esperar um pouco. Apanho a roupa que já está seca, dobro e engordo a pirâmide ranhosa que olha para mim todos os dias e grita: "Estás à espera do quê? Estou cada vez maior!!"
É hora de lanchar, a Mel está a ameaçar pedir toda a atenção. Arrumo a cozinha. Arranjo o peixe, ponho os ingredientes para o jantar a jeito. Sempre tudo a jeito, não vá ter que fazer tudo com ela ao colo...

19horas
Ups! Biberão. Outra vez?
O pai chega, peço que seja rápido. Os beijos são rápidos, tirar a gravata e o fato é rápido, o banho tem que ser rápido... A menina já tem colo, posso terminar o jantar, mas rápido. A cabeça ao jantar tem que ser polivalente: tem que dar para pôr a conversa em dia, ouvir uma ou outra notícia, planear o dia seguinte, fazer "olá e cutchi cutchi" à Mel que está ao lado na espreguiçadeira e pedir carinho e pensar na preparação do banho que acontece não tarda mesmo nada.
Olha, já está na hora do banho!Olha, já está na hora do próximo biberão.

22 horas
A Mel bebe o leitinho, aninhada no colo do pai, por entre sorrisos e uns olhinhos já pesados. Eu delicio-me com o cenário. Ritual do deitar terminado - que maravilha pô-la na cama, arranjar-lhe as mantas, beijá-la e cheirá-la, amo-te meu docinho e deixar o patinho a cantar e a bater asinha na cabeceira! -, é tempo de arrumar a cozinha, encher a marmita, organizar os biberões...
Por volta das 23 horas, é hora de sofá. Estamos estafados. A Anatomia de Grey fica para amanhã. Ou estávamos a ver a Segurança Nacional...?


Mais variante, menos variante, é isto.
Se fiz muita coisa? Fiz. Mas se foi o suficiente? Não.
Se é preciso mudar aqui alguma coisa? É, sim senhora.
Deixar de comer ajudava. E de sujar roupa :) Ok, uma empregada era bem-vinda. Ok, voltei à terra.


Ninguém disse que era fácil. Eu sei.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Anita vai à nutricionista

Experiências novas. Gosto. E preciso.
Quis a sorte premiar-me com um pack de três consultas de nutrição. "Olha que bem, hein?! O próprio destino a enviar-me indirectas!", pensei eu. Verdade admitida: preciso de perder o (pouco) peso que me restou da gravidez e já percebi que isso não vai acontecer com a indolência e a anarquia alimentar que têm caracterizado os meus dias.

Sempre pensei que voltava a fazer exercício físico e, com o embalo,  ajustava a alimentação. Mas será ao contrário, porque a sorte, lá está, premiou-me com conselhos de nutrição. E porque é  mais fácil alterar a alimentação do que deixar a bebé umas horas e sair de casa.
Uma coisa de cada vez? Uma coisa de cada vez.

Quis a dietista Tânia Camões, parceira da Mais Vida Gestantes, saber quem cozinha, como se come cá em casa, em quanto tempo se come, que espaço ocupam os legumes, a carne e o peixe no prato... Eu sabia que uma consulta deste género ia tocar em feridas!

O veredito? Foi aguado! Chá! Chá!

E o que eu (não) gosto de chá! Ui, ui... Quatro chávenas de água quentinha por dia? Sim senhora, podia ser bem pior o "castigo". Podia ser chá sem açucar, por exemplo! Ai é isso mesmo, sem açucar? Glup. Sim senhora, assim será. Podia ser pior. Podia ser chá de ameixa seca, por exemplo. Ai, também é para beber isso pela manhã, morninho? Glup. Sim senhora. E sem açucar, pois.
Verdade seja dita, não há-de ser assim tão mau.
 


A juntar aos líquidos, as fibras. Agora é que eu vou estar na moda também. Sementes de linhaça na sopa? Sim senhora, assim será. Sopa duas vezes por dia, consegue? Vou conseguir... Assim consiga eu ter tempo para as fazer :)

Podia ser pior, certo? Podia, por exemplo, sugerir-me não pôr a manteiga na torrada!
Ai... é para cortar com a dita cuja? Ao pequeno-almoço só..? E também ao lanche! Hum...
Sim senhora! Sobreviverei, tenho a certeza.

Mas...  A altura do ano é ingrata para ajustar a dieta!!! Concordámos.
E ia jurar que, enquanto conversávamos, o cheiro a rabanadas e sonhos foi-se intensificando.
Arranjámos um compromisso (é sempre possível, eu sabia!). O Natal vai  poder apoderar-se de mim à mesa, mas com algumas alterações, face a anos anteriores:

1. O prato da sobremesa vai levar um bocadinho de cada doce e não será recarregado!
2. Pasme-se! Posso comer tronco de Natal ao pequeno almoço! Yupiiii. Foi uma negociação perfeita esta! Nada como uma dietista sensível à quadra natalícia :)
3. Posso deliciar-me com o bacalhau espiritual, os sonhos de abóbora e tal, mas não devo levar a marmita dos restos para casa... Opá... Não sei, não sei... dá-me tanto jeito largar a cozinha uns dias...
 
 
Um, dois, três. O combate começou.
No final de Janeiro conversamos.