quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Doze badaladas, Cinderela!



Não sei quem está a proteger quem, se sou eu que a protejo, se é ela que me protege.
Lembro-me de pensar várias vezes isto durante a gravidez. Não apanhei uma constipação, as crises alérgicas hibernaram e não houve maleita de relevo que me pegasse durante 38 semanas.

A esta "paz" clínica, juntaram-se outras coisas boas... Algumas inesperadas, como o facto dos pêlos crescerem infinitamente mais devagar - por esta não esperava mesmo, alguém sabia disto!?
A barriga cresceu, arredondada, e o resto do corpo harmonizou-se. "Que grávida tão bonita!", ouvi isto dezenas de vezes. E concordava, o que é ainda mais surpreendente. A felicidade que vem de dentro, com muita força, transparece cá para fora, isto já eu tinha constatado. 
E o cabelo? Brilhava.
E a pele? Reluzente.
A relação de uma grávida com o corpo muda extraordinariamente. Ficamos realmente mais bonitas, ou é só a felicidade que nos coloca filtros? Ou é só a felicidade que nos tira os filtros?

O efeito Cinderela terminou.
Ainda deu para chegar a casa na carruagem engalanada mas, duas (terão sido três?) semanas depois, o relógio deu as doze badaladas. 


É estranho perceber como, a seguir ao parto, ainda o corpo não tem as comunicações actualizadas. A mão ainda acaricia a barriga com aquela ternura, mesmo que o bebé esteja ali ao lado a dizer-nos: Já não estou aíííí! E não é que parece que algo ainda mexe lá dentro?

Nestas primeiras horas, ou dias, as feridas da "guerra" contam pouco, tomam-se os comprimidos que há a tomar, faz-se o repouso que há a fazer, vive-se o que há a viver, com as novas regras.

"Sobrou isto?", pensei para mim na primeira vez em que me olhei ao espelho, com olhos de ver. Sentia-me magra. Magríssima. Sentia, sobretudo falta da minha barriga.

Umas semanas depois, a Cinderela voltou à cozinha.
Já sem a barriga redondinha dos pontapés, já com o cabelo estragadito, sem brilho, sem jeito e a cair pela casa, já com a pele menos reluzente, já com as formas a pedir harmonia.

As roupas ficaram largas. Arrumo o calção de ganga de grávida, preparo-o para devolver, e custa-me. Que raio. Visto as leggings de grávida e dobro a cinta para baixo, fica ridículo, mas dá-me aconchego à alma. Que raio. As roupas "normais" ainda não me aceitaram. Que raio. Não tenho nada para vestir. Preciso voltar a minha forma habitual. Afinal, não estou magríssima. 

Mudei foi de conto de fadas e agora sou a bruxa má que faz perguntas escusadas ao espelho :)






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