terça-feira, 21 de maio de 2013

A Saudade


"Percorri o corredor mais uma vez, já estavas quase no fim. Disse para mim que não te ia ver mais porque já estava demasiado custoso. Não sei se iria conseguir cumprir, provavelmente seria assaltada por auto recriminações que não perdoariam egoísmos naquela hora e me fariam arrastar-me até lá, até ao final.

Será que me ouviste, mesmo sem ter dito nada?
Decidiste (escolheste? foste tu que escolheste assim?) morrer minutos depois. Eu perdia-me numa conversa sobre o botão que não temos quando queremos morrer, e que falta faria no teu caso! Falava sobre o direito que deveriamos ter de o carregar quando achássemos que não havia mais dignidade para respirar. Partilhava com a enfermeira que querias que fosse eu a tratar de ti, quando fosses velhinha, espelhando a injustiça que me parece haver de não te ter sido dada essa oportunidade. A ti e a mim.

Antes daquele último adeus, dei-te um beijinho. As enfermeiras disfarçaram mal a ansiedade que tinham de desligar de vez o oxigénio, certificando-se de que, já com legitimidade, podiam ajudar a terminar com o que já não fazia sentido. Percebo.

Se escolheste realmente morrer comigo, só posso sentir-me feliz. Tive importância para ti, nunca o escondeste, sabia disso.
Cada dia que passa procuramos paz, encontrar-nos neste mundo já sem ti e, ainda assim, seguir em frente com a dor, com a ausência e a saudade que é tão grande. Às vezes não sentimos que realmente nos vamos recompor, mas fingimos que sim, porque temos mesmo que nos enganar, para não cair novamente, com o risco de não conseguirmos sair e já não acreditarmos que há pretexto.

Onde estarás?"

Escrito por: Estrunfina Pink, Maio de 2009
*Encontrei este texto, achei bonito, resolvi partilhar.

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